O pregão da Bolsa de Tóquio abriu em forte queda nesta quarta-feira, na esteira da derrubada das bolsas ao redor do mundo, ocorrida na terça-feira, a partir da queda de quase 9% na bolsa de Xangai. Os mercados maduros recuaram entre 2% e 3% e nos emergentes, Brasil e Argentina à frente, o tombo chegou aos 7%.
A abertura em queda das cotações no Japão (na primeira meia hora, o índice Nikkei recuava 3,8%) faz prever pelo menos mais um dia de nervosismo nas bolsas de todo o mundo. Ainda que a maioria dos analistas não enxergue razões para uma crise estrutural, prevendo um retorno à normalidade em no máximo duas semanas, sabe-se lá como evoluem as coisas, nessas horas, no mercado financeiro, quando análises pretensamente sofisticadas são atropeladas por manadas de investidores desorientados.
Nas explicações corriqueiras, o mergulho das cotações se deveu a dois motivos. Primeiro, rumores de preparação de um plano chinês para, muito em breve, frear o ritmo de crescimento de sua economia, com alta nas taxas de juros e aperto nos impostos. O outro, o alerta de Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, numa palestra em Hong Kong, na segunda-feira, para indícios de uma recessão nos Estados Unidos, já no fim do ano, coroando o encerramento do ciclo de expansão da economia global iniciado há pelo menos meia dúzia de anos.
Por que diabos os tais planos de conter a economia chinesa só se materializaram ontem nas versões que correram os mercados e, mais estranho, porque uma palestra na segunda só foi tumultuar os pregões na terça, eis aí alguns dos mistérios dos mercados financeiros.
No Brasil, até que foi curioso. Enquanto o ministro da Fazenda minimizava o tremelique, o presidente do Banco Central, jogava a voz nas graves profundezas dos sons baixos para entender a turbulência como um alerta de que o futuro pode não ser tão risonho. Nada a ver com o desejo de Guido Mantega de que o Banco Central reduza os juros, assim como com a oportunidade, captada por Henrique Meirelles, para defender sua política conservadora de manutenção de juros altos e acumulação de reservas cambiais.
De concreto, a constatação de que ícones do financeirês, como o risco-país, não passam de piada (o tal que leva meses para recuar uns 100 ou 200 pontos, avançou logo uns 20 pontos em poucos minutos). E que mercados emergentes, na hora em que a onça começa a beber água, estejam onde estiverem os famosos fundamentos econômicos e seja qual for o tamanho dos seguros contra volatilidades (vide US$ 100 bilhões em reservas cambiais), não passam de uma bolsa furada. E ainda vamos ter de agüentar a conversa de que a terra tremeu porque a dose do remédio aplicado pelo BC tem sido muito tímida.
Publicado por José Paulo Kupfer - 28/02/07 12:36 AM no site "www.nomínimo.com.br"
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