quinta-feira, março 23, 2006

O que parecia sólido se desmancha na bolsa

A despeito de toda a expectativa em torno da escolha do candidato tucano à Presidência e do desfecho pró-mercado, o clima azedou esta semana entre os investidores. A possibilidade de Antonio Palocci deixar a Fazenda, para usar uma expressão corrente entre os analistas, já estava “precificada”, e o estrago provocado pela criminosa quebra de sigilo do caseiro Francenildo só reforçou as apostas nessa direção. O que não estava na contabilidade era o discurso hermético do novo presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke. Verdadeiro arauto da volatilidade.

Em seu terceiro pronunciamento em público, o chefão do Fed, banco central dos Estados Unidos, abusou dos jargões acadêmicos e deixou especialistas sem entender muito bem o que ele estava querendo dizer. A maioria achou que era um sinal de novas altas de juros, além das já esperadas. O dólar subiu (lá), o prêmio dos títulos do Tesouro disparou e economistas passaram a vasculhar com lupa os dados sobre inflação. Nos países emergentes, Brasil à frente, os estrangeiros reviram seus portifólios e parte dos recursos acabou sendo repatriada para os EUA, diante da perspectiva de maiores ganhos com ativos de risco (praticamente) zero. Resultado: a Bovespa caiu forte e o dólar (aqui) teve alta, depois de flertar com o patamar de R$ 2,10.

Bernanke sempre foi um defensor da transparência na condução da política monetária, mas tem sido incapaz de transmitir qualquer clareza. Seu discurso sobre a “curva dos juros” só serviu para confundir os mercados, que se ressentem das decisões “telegrafadas” pelo ex-presidente do Fed Alan Greenspan. A fatura desta turbulência semântica vai ser paga, como sempre, pelos emergentes – por mais que os famosos “fundamentos” brasileiros estejam mais sólidos.

Do Informe Econômico do JB

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