sexta-feira, setembro 21, 2007

OS BCs E A RECENTE CRISE FINANCEIRA

Os BCs e a recente crise financeira
Luiz Carlos Mendonça de Barros, Folha de S. Paulo (21/09/07)

Com a posição dos maiores BCs, a crise de confiança que atingiu os mercados nos últimos meses começa a ceder

O PRESIDENTE do Banco da Inglaterra (o banco central britânico) compareceu ontem ao Parlamento para explicar a corrida bancária, a primeira em mais de cem anos contra uma instituição financeira no Reino Unido. Vítima da crise de confiança que atingiu os mercados financeiros de todo o mundo, o Northern Rock, uma financiadora de hipotecas fundada em 1850, ficou sem recursos para continuar operando. Nessa situação, procurou o Banco da Inglaterra para obter uma linha de crédito emergencial a fim de evitar o pior. Mas deu com o nariz na porta, como se dizia antigamente, pois os sisudos diretores dessa instituição negaram o financiamento.

Sem nomear o banco em dificuldade -embora até as portas do Banco da Inglaterra conhecessem sua identidade-, o governador declarou à imprensa que não iria resgatar com dinheiro público uma instituição imprevidente. No dia seguinte, longas filas de poupadores apavorados formavam-se nas principais cidades inglesas. O governo trabalhista, que tem na prática o controle sobre o banco central, avocou para si o resgate financeiro do Northern. A bravata de Mr. King -esse é o nome do presidente- durou 24 horas.

O que mais chamava a atenção no comportamento da direção do Banco da Inglaterra era seu movimento contrário ao dos dois bancos centrais mais importantes do mundo -o Fed (EUA) e o BCE (UE). Estes, aos primeiros sinais da gravidade da crise, deram suporte financeiro aos bancos em dificuldade. A posição do BCE é especialmente marcante, pelo fato de ser ele de fato administrado por ex-funcionários do Bundesbank (Alemanha), de longe a instituição mais rígida na gestão da moeda de um país. Mas quem conhece um pouco de história econômica sabe bem a razão para a posição do BCE.

A sociedade alemã foi uma das que mais sofreram com os resultados desastrosos que a atuação errada de um banco central pode criar: inflação e crise bancária. Esse conhecimento está impregnado nos alemães, embora essas duas pragas tenham ocorrido há mais de 70 anos. Mas os danos provocados pela hiperinflação dos anos 20 do século passado e pela crise bancária que se seguiu foram o ovo da serpente -para usar a imagem do grande Ingmar Bergman- do nascimento do nazismo. Por isso nenhum alemão brinca com essas duas coisas.

Mesmo comportamento teve o Fed, que tem o mandato duplo de combate à inflação e preservação do emprego. Isso resulta do aprendizado dos anos 30, quando, por suas ações erradas, o Fed teve responsabilidade direta para que o crash da Bolsa em 1929 culminasse na Grande Depressão.

Com a posição dos maiores bancos centrais, a crise de confiança que atingiu os mercados nos últimos meses começa a ceder. Por outro lado, a acomodação dos principais índices de inflação nos EUA, na Europa e mesmo no Reino Unido do sr. King tira o discurso dos analistas mais duros em relação à inflação. Com o passar dos dias, a racionalidade perdida volta ao mercado e os problemas econômicos associados à desaceleração da maior economia do mundo voltam a dominar corações e mentes.

Uma única observação a meu leitor da Folha. O comportamento do mercado financeiro no Brasil revela para os céticos a verdadeira natureza estrutural do ajuste externo dos últimos anos. A cotação de nosso real ante o dólar americano voltou ao seu valor de antes da crise, apesar de toda a especulação e o nervosismo das últimas semanas.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 64, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
lcmb2@terra.com.br

Um comentário:

OCSB disse...

prof. humberto:
1- o sr. vai estar no expo money sp? eu vou lá.
2- já definiu as datas do curso em sp? tô querendo voltar lá na ocasião.
um abraço do otavio ocsb@terra.com.br