segunda-feira, fevereiro 06, 2006

E se der errado?

Por Mauro Halfed no Globo de hoje

As fortes altas no mercado de ações e o intenso declínio na cotação em reais do dólar nos últimos meses trouxeram-me alegrias. Entretanto, preocupo-me quando percebo um contínuo otimismo no mercado financeiro. O que pode dar errado?

1) O gigantesco déficit nas contas externas americanas deve ser resolvido com um grande aumento da produtividade ou com a simples queda do dólar. Nessa última hipótese, os juros americanos devem subir para segurar as aplicações dos asiáticos em seus títulos públicos. Se isso acontecer, o apetite dos investidores internacionais para correr riscos será reduzido, prejudicando a entrada de dólares no Brasil.

2) Se os juros subirem muito nos EUA, a bolha imobiliária vai estourar e um efeito dominó jogará para baixo uma parte substancial do que hoje é contabilizado como patrimônio pessoal em países desenvolvidos. Menos riqueza nos registros, menos consumo nos supermercados e um ciclo pessimista se instalará.

3) O petróleo pode subir ainda mais e brecar o ritmo de crescimento dos EUA e de muitos países asiáticos. Nesse caso, cairão os preços das commodities exportadas pelo Brasil, e o bom superávit de nossa balança comercial vai virar pó.

4) O terrorismo pode voltar a atacar e amedrontar investidores. O Brasil, ainda dependente de poupança externa, perderá novamente. Possivelmente, tudo voltará ao normal poucos meses depois.

5) A disputa presidencial no Brasil pode promover a radicalização de propostas e gerar insegurança a investidores mais conservadores. A essa altura do ano, em 1989 e em 1994, as pesquisas eleitorais apontavam para direções muito diferentes do que a abertura das urnas indicou.

Há outros cenários pessimistas imagináveis, mas não desejo azedar mais seu dia. O estranho é que o mercado, hoje, atribui uma probabilidade muito baixa de que esses momentos infelizes voltem a nos acompanhar. Por isso, as ações não param de subir, e o real continua apreciando.

Quem não teme ficar pobre deve apostar todas suas fichas no otimismo. Quem acredita que o futuro é incerto deve recuar e diversificar suas aplicações. Não é a melhor maneira de ficar rico, mas é a melhor forma de garantir um sono tranqüilo e a geladeira cheia.

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