Do Blog de Míriam Leitão em O Globo Online
Pelo movimento de ontem, o mercado abrirá mal nessa quarta-feira, com bolsa em queda e dólar em alta. Mais um dia de incerteza, com chance de melhorar até o fim do dia.
Quinta e sexta serão dias importantes para definir o movimento de curto prazo do mercado. Na quinta sairá a correção do PIB americano do primeiro trimestre. Deve mostrar um crescimento forte e muita gente vai se perguntar se essa história de estagflação não era exagero. Um número bom não vai indicar que está afastado o risco de queda do crescimento americano. Mostrará que o passado recente estava bom, mas a dúvida é o futuro.
Outro dado importante é o de sexta. É o da inflação americana, por uma outra forma de calcular. É o PCE. Se ele mostrar que a inflação está alta, principalmente se os últimos dados anualizados são ruins, isso significa que os juros americanos vão subir mais ainda. Mais alta dos juros lá, mais investimentos saindo do Brasil e mais volatilidade em todos os mercados.
O que o mercado teme é que esses dois dados juntos, e suas projeções futuras, mostrem a inflação no teto, a economia americana desacelerando e o mercado imobiliário desaquecido.
Um dos pilares da economia americana nos últimos tempos foi o crescimento do mercado imobiliário, muito incentivado pela queda dos juros americanos depois do 11 de setembro. Para evitar que a tragédia do World Trade Center virasse uma crise de confiança e, depois, uma recessão mundial, o então presidente do FED, Alan Greenspan, reduziu os juros de 5% para 1%. Começou a alimentar a valorização dos imóveis. Funcionava assim: o imóvel subia de preço, em parte pelos juros baixos, o dono do imóvel ia ao banco e refinanciava com os juros mais baixos seu ativo que valia mais. O ganho da operação ia para o consumo. O consumo mantinha a economia crescendo. É esse círculo que pode se romper. Tudo funcionou muito bem até agora, mas produziu uma coisa estranha: nos Estados Unidos a poupança do setor privado é negativa. As famílias despoupam.
O que tudo isso tem a ver conosco? A alta do dólar é boa para os exportadores, mas ela eleva a inflação e isso reduz a queda das taxas de juros. Um freio nessa queda em pleno período eleitoral pode aumentar a tensão na equipe econômica, principalmente porque hoje Ministério da Fazenda e Banco Central têm convicções, análises e perfis bem diferentes.
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