Por José Alan Dias |
Há quatro semanas, os operadores do mercado financeiro repetem a mesma e óbvia pergunta sobre quanto mais poderão recuar as Bolsas de Valores. Em dois dias, em termos nominais, a Bovespa recuou mais de 6%, zerou os ganhos do ano e agora já acumula uma queda em 2006, de 1,8%. A Bolsa de Moscou derreteu nesta terça-feira, queda de quase 10%, causada principalmente por empresas petrolíferas. Em maior ou menor proporção, o mesmo se repetiu na Europa, nos mercados asiáticos e na América Latina: as ações das mineradoras e outros segmentos que lidam com commodities estiveram entre as mais afetadas. É o retrato da preocupação com os efeitos da esperada desaceleração econômica nos EUA sobre a indústria, o que comprometeria os preços dos metais. A inflação ao consumidor nos EUA pode chegar, neste ano, a 3,7%; o chamado núcleo de inflação, que expurga os preços suscetíveis a choques, já está no limite do tolerável pelo Fed, 2%. Em seu depoimento na Conferência Monetária Internacional, ainda na semana passada, o presidente do Fed, Ben Bernanke, virtualmente confirmou que a política de elevação de juros não experimentará uma pausa, não agora. A exposição de Bernanke deixou desconcertados muitos analistas, já que os dados das últimas semanas, sobretudo relativos ao mercado de trabalho, haviam evidenciado sintomas de desaceleração na economia norte-americana. Se seguidas à risca as palavras de Bernanke e de uma série de diretores do Fed, o consumidor norte-americano deve-se preparar para voltar a conviver com taxas de juros mais altas que os atuais 5%. Talvez 5,25% ao fim de junho. Talvez 5,5% em agosto. Para ganhar credibilidade, o novo presidente do Fed já começa a mostrar que está disposto a esfriar a economia, se preciso for, para frear a inflação. Pode ser que para Bernanke não baste mais ameaçar o mercado e falar enigmaticamente, como Greenspan. O economista-chefe do Morgan Stanley, Stephen Roach, disse que essa conduta de Bernanke, mesmo diante de um susto inflacionário que ele considera discutível, indica uma tentativa de o Fed recuperar a imagem “de durão” necessária a toda autoridade monetária, que ajudaria a pôr fim a anos de condescendência monetária e reequilibrar a economia global. O comportamento mais conservador do Fed tem sido seguido por bancos centrais de diversos países do mundo, que nas últimas semanas elevaram suas taxas de juros: Índia (para 5,75%), Coréia do Sul (4,25%), África do Sul (7,5%), Tailândia (5%) e Turquia (15%), entre os países periféricos, sem contar o Banco Central Europeu, que elevou a taxa básica de juros da Zona do Euro em 0,25 ponto percentual, para 2,75%. É claramente perceptível uma preocupação com a inflação em todo o mundo. Isso pode significar menor nível de crescimento global e é ruim para as Bolsas. Os investidores continuarão esperando uma recuperação, ainda mais agora que os preços estão atraentes. Nesta quarta-feira, além do CPI (sigla em inglês para inflação ao consumidor) e dos dados do Livro Bege do Fed, os operadores vão monitorar os discursos de dois dirigentes do Fed que falarão enquanto os mercados estiverem abertos. Em momentos como o de agora, investidores não observam nem a qualidade dos papéis nem os tais fundamentos. O indicador que pode trazer de volta a tendência de alta do mercado acionário no mundo ou fazê-lo continuar em depressão já está definido: chama-se inflação. [alan@primeiraleitura.com.br] |
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quarta-feira, junho 14, 2006
Ameaças não bastam mais
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