Por José Alan Dias |
O brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero, a estatal para a qual a Varig deve R$ 525 milhões, resumiu com rara acuidade a lógica seguida pelas empresas que não participaram do leilão da Varig. Pereira disse que as companhias preferiram investir no próprio crescimento, considerando a possível ausência da Varig, a se envolverem em uma operação de risco: investir em uma companhia cuja frota está caminho do sucateamento e que pode ser parcialmente arrestada a partir do próximo dia 13 se houver uma decisão favorável às empresas de leasing na Corte de Justiça de Nova York. “Se [a Varig] quebra, cai no colo de alguém de graça, sem precisar comprar”, disse Pereira, ainda no início da tarde. Poucas horas depois, a TAM, primeira colocada no ranking interno de passageiros e uma das empresas credenciadas para participar do leilão, divulgou comunicado no qual informava que, depois de fazer uma avaliação “detalhada do risco e do retorno” sobre um possível investimento, optou por não fazer lance. O leilão foi um fiasco. Na primeira rodada, nenhum dos concorrentes ofereceu lance no preço mínimo (US$ 860 milhões), o que obrigou o leilão a ir para uma segunda rodada, sem preço mínimo. No segundo round, houve apenas uma oferta, a do TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), que se dispõe a desembolsar US$ 448 milhões, ou seja, um desconto de quase 50%, por toda a operação da companhia (doméstica e internacional). A oferta deveria ser paga da seguinte forma: US$ 100 milhões em recebíveis, US$ 223 milhões em debêntures (títulos de dívida) e apenas US$ 127 milhões em dinheiro. Ao analisarem a proposta da TGV, o juiz do caso, Roberto Ayoub, e os credores devem levar em conta não apenas o lance, mas também a capacidade de o eventual novo proprietário capitalizar a Varig e torná-la rentável, considerando que a empresa tem um passivo gigantesco. Infelizmente, para a Varig, o TGV não parece ter o poder financeiro requerido para uma empreitada desse tipo, disse a Primeira Leitura Carlos Albano, analista de transporte da corretora Unibanco. A situação da Varig chegou a um ponto extremo. Primeiro porque há dúvidas sobre se o juiz aceitará a oferta do TGV e, depois, porque o TGV não apresentou nenhum indício de que, uma vez proprietário, terá como capitalizar a companhia — e de muito pouco vale mencionar, como fez um dirigente sindical (meu Deus, como há dirigentes sindicais vinculados à Varig!), que haveria três grupos estrangeiros por trás da proposta do TGV. Quem são os tais grupos? Que garantias poderiam apresentar de que têm como capitalizar a empresa? Muito se disse nas últimas semanas que, no momento oportuno, os investidores fariam ofertas pela Varig e que o leilão seria um sucesso, porque a companhia é (era) economicamente viável. A julgar pelo fiasco que foi o leilão, a concorrência prefere continuar como estava: esperando que a Varig definhe lentamente e talvez herdar as linhas e pagar para ver se ela de fato ainda é viável. O juiz Ayoub terá 24 horas para anunciar sua decisão. Para o analista do Unibanco, são poucas as chances de a oferta do TGV ser aceita. “Se o juiz recusar a oferta, as chances de a Varig ir à falência ou perder mercado em velocidade ainda mais rápida crescem”, completa Albano. [alan@primeiraleitura.com.br] |
As análises aqui contidas não constituem, em hipótese alguma, qualquer tipo de sugestão de compra ou venda de ativos financeiros. Qualquer decisão de compra ou venda de ações, títulos e valores mobiliários deverá ser baseada em informações públicas existentes sobre os referidos títulos, sendo a decisão de investir de inteira responsabilidade do leitor, não cabendo ao autor das postagens qualquer responsabilidade por eventuais perdas de qualquer investidor.
sexta-feira, junho 09, 2006
O fiasco
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário