É muito provável que a atual volatilidade do mercado existisse mesmo se o Federal Reserve continuasse a ser comandando por Alan Greenspan e não por Ben Bernanke. Para entender os mercados, comentam operadores, é preciso considerar que são sistemas complexos, em que o comportamento de manada pode gerar uma intranqüilidade repentina, que não raras vezes serve para corrigir desequilíbrios acumulados durante a fase mais otimista do ciclo.
Há, entre analistas, um consenso de que muitos dos investidores que hoje se retiram de mercados emergentes o fazem porque estavam extremamente alavancados — obtiveram recursos a custos mais baixos em economias centrais para operação em países que ofereciam taxas de retorno maiores — e de que essa situação não poderia se sustentar em um ambiente de elevação de taxas de juros e conseqüente diminuição de liquidez mundial.
O mercado, em algum momento, testaria Bernanke, da mesma forma que Greenspan foi testado quando a Bolsa de Nova York caiu 23% em 1987, em apenas um dia, na conhecida Segunda-Feira Negra. Analistas norte-americanos dizem que Bernanke, por ser acadêmico, não conhece ainda as sutilezas da comunicação com os investidores e que aí estaria a origem de seus deslizes, mesmo quando os discursos são previamente preparados. A nomeação de Henry Paulson, do Goldman Sachs, um dos bancos com maior crescimento de ganhos nos últimos anos, em substituição a John Snow como secretário do Tesouro, pode servir de amortecedor para a falta de “traquejo” da Bernanke na lida com o mercado.
Menos por nostalgia e muito mais por respeito às avaliações, investidores praticamente interromperam as operações nesta quarta-feira para acompanhar um depoimento de Alan Greenspan, há meses agendado, diga-se, a uma comissão do Senado dos EUA. Greenspan repetiu o que já vinha dizendo: que os altos preços do petróleo podem levar os EUA a procurar fontes alternativas de combustíveis (a parte boa). A parte ruim é que, no curto prazo, os custos da commodity vão, sim, afetar a atividade econômica do país.
Depois de tantas perdas, o mercado acionário deve mostrar recuperação, porque a forte queda dos ativos atrairá interessados de ocasião. Nada garante, entretanto, que a correção tenha terminado, porque os dados da economia americana podem seguir mostrando menor crescimento sem que, todavia, haja desaceleração da inflação.
O mercado brasileiro, só nesta quarta-feira, se recordou de que estava na véspera da divulgação de mais uma ata do Copom. Ao contrário de passagens anteriores, desta vez o BC terá de mostrar uma análise muito mais aprofundada sobre o panorama externo, porque esse fator pode ser decisivo na continuidade ou no mínimo na intensidade dos cortes de juros nos próximos meses.
O ministro Guido Mantega pode repetir quantas vezes quiser que não há razões para que seja interrompido o ciclo de afrouxamento da política monetária por aqui. O mercado não lhe dará a menor atenção, como também dá pouquíssimo valor às platitudes repetidas pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, sobre os tais fundamentos da economia brasileira. Prefere esperar pela ata do Copom.
[alan@primeiraleitura.com.br]
Publicado em 7 de junho de 2006.
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