Por André Soliani |
A atuação do Banco Central no mercado de câmbio desde meados de novembro revela que a equipe econômica deixou o país sem instrumentos para controlar minimamente a taxa de câmbio. No dia 18 de novembro, o BC passou a intervir com mais força no dólar, depois de a cotação ter ficado por cerca de uma semana abaixo de R$ 2,20. Naquele dia, a cotação fechou em R$ 2,22. Pois bem, 74 dias e US$ 6,8 bilhões (não inclui as compras no mercado à vista) depois, o dólar fechou cotado a R$ 2,215. Apenas em janeiro, a moeda dos EUA se desvalorizou 4,69%. A verdade é que a intenção do Banco Central nestes dois últimos meses, valorizar ou não o dólar, pouco importou. O que determinou a trajetória da cotação foi a elevada liquidez internacional que encontra no Brasil a mais generosa remuneração do planeta. Entre agosto e janeiro deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu os juros nominais de 19,5% para 17,25%. Como a inflação brasileira caiu, em termos reais, o corte foi bem menor, e o país continua a oferecer taxas reais de mais de 12% ao ano, algo que nenhum país minimamente civilizado pratica. A Turquia, que sempre está entre os primeiros colocados no ranking de campeões de juros, paga ao investidor 5,7% ao ano. A consultoria Tendências, que avaliza a estratégia do BC, afirma que o real deve continuar a se valorizar por conta do diferencial de juros. Até o fim do ano, o mercado espera que o Brasil ainda esteja pagando juros reais acima de 10%, mais do que suficiente para convencer os investidores a colocar dinheiro aqui. O interesse do Banco Central de valorizar o real também cresceu com a recente retomada da inflação medida pelos Índices Gerais de Preços (IGPs). Desde que o dólar bateu em R$ 2,38, em meados de dezembro, a equipe econômica reduziu o volume de recursos usados para intervir no mercado. Além de não ter instrumentos eficazes para apreciar o dólar, a verdade é que o BC não tem nenhuma preocupação com o setor produtivo. A única justificativa para a existência da política econômica é o controle da inflação. Não adianta a equipe econômica dizer que os recordes de exportação mostram que o câmbio não é importante para o setor produtivo. O lucro da Suzano Celulose teve queda de 17,3% entre 2004 e 2005. A companhia responsabiliza o real valorizado por parte da piora no desempenho. Dados da CNI mostram que quase 900 empresas deixaram de vender para o exterior em 2005. As exportações recorde são resultado do crescimento da demanda mundial e dos preços em dólar. Se o humor do mercado internacional muda, o país vai perceber, no pior momento, o erro da estratégia que adotou para controlar a inflação à custa de todos os demais indicadores da economia: crescimento, câmbio e juros. Em tempo: os defensores do atual modelo costumam creditar ao descontrole das contas públicas a responsabilidade pelos juros altos. Dizem que o BC não pode reduzir a Selic porque a política fiscal, além de expansionista, não passa confiança ao investidor. Difícil entender, então, por que a instituição inflou em R$ 6,2 bilhões a dívida pública atrelada à Selic, o custo fiscal dos swaps cambiais, se não tem nem intenção (é ele mesmo quem diz) nem capacidade de intervir de forma eficaz no mercado. O argumento também se mostra insustentável quando se lembra que o pagamento de juros é a principal despesa do Orçamento. [soliani@primeiraleitura.com.br] |
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quarta-feira, fevereiro 01, 2006
Mãos atadas
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